Dentro da construção de uma sociedade com problemáticas como o racismo tão presente e estrutural, é importante repensar algumas frases e expressões sobre o cabelo com curvatura.
Esse é o tipo de fala que pode até parecer elogio, mas, na verdade, reforça uma imagem negativa sobre o cabelo crespo, por exemplo.
Se você tem cabelos crespos ou cacheados, infelizmente, é provável que você já tenha escutado pelo menos dessas:
Não é difícil perceber a problemática por trás dessa frase. A postura invasiva, que pretende ditar o que o outro deveria fazer com o próprio cabelo, é uma imposição e, portanto, uma violência.
Afeta não só a individualidade, mas ancestralidade e particularidade que esses cabelos carregam.
Busca reforçar e aprisionar a partir de um padrão liso, onde os fios não têm as mesmas características.
Geralmente, essa surpresa vem acompanhada de um toque não permitido.
É, no mínimo, desconfortável que a noção de espaço individual seja desrespeitada ao ponto de naturalizar o toque nos cabelos de outra pessoa, sem a devida permissão.
Muitas vezes, cabelos crespos e cacheados são vistos como exóticos e as pessoas se sentem no direito de \”explorar\”, tocar e sentir, ignorando que eles são parte de uma outra pessoa.
Além disso, se surpreender com o fato de ver um cabelo crespo macio e cheiroso, sugere que você já assumia o contrário como sendo verdade, ou seja, você imaginava que esse cabelo deveria ser duro e sujo.
Os cabelos com curvatura, especialmente o cabelo crespo, têm características bem diferentes dos fios lisos, como o volume, formato e geralmente comprimento.
Quanto mais próximo do liso, mais aceito o cabelo é. Por isso, as associações são feitas automaticamente na cabeça de quem considera o padrão como única forma de beleza.
Sendo assim, os cabelos trançados, alisados, mais definidos e com menos características que os aproximem ao crespo, são também tidos como mais belos, melhores e mais adequados.
Assim como a surpresa de quem desacredita que o cabelo crespo possa ser macio e cheiroso, é a curiosidade de quem não imagina como seria possível lavá-lo e penteá-lo.
Essas são partes essenciais e naturais na rotina capilar, que compõem não só a saúde, mas também a higiene básica dos fios.
Por isso questionar essas etapas é também ofensivo, sugere que esse tipo de cabelo não seja bem cuidado ou limpo.
Dizer que os crespos estão na moda é simplesmente esvaziar a história de um povo.
Passar pela transição capilar e encontrar novamente o seu cabelo natural não é moda, é entendimento racial, libertação, autocuidado e pertencimento.
Nas últimas décadas é possível acessar mais conteúdo na internet vendo as pessoas orgulhosas em ser quem são, é possível encontrar mais produtos pensados para a diversidade dos seus cabelos e ver crianças crescendo com a ideia de que ninguém precisa se encaixar em um padrão para ser bonita, aceita ou amada.
Isso não é moda, mas sim o resultado de um movimento doloroso de exposição e muita luta em comunidade, para que o futuro seja cada vez melhor, mais justo e respeitoso.
Combater o racismo presente nessas falas é um exercício constante e de responsabilidade de cada um.
Falas, muitas vezes estruturais e reproduzidas ao longo de uma vida inteira, devem ser questionadas, porque partem de uma origem racista que se perpetua justamente no que está intrínseco, de forma silenciosa e contínua.
Joicy Eleiny, pernambucana nascida no interior e morando na capital. 21 anos, mulher negra, crespa e LGBT compartilhando empoderamento e provocando discussões acerca de suas lutas principalmente através da estética. Estudante de jornalismo, apaixonada por moda, beleza e brega!
Joicy Eleiny, pernambucana nascida no interior e morando na capital. 21 anos, mulher negra, crespa e LGBT compartilhando empoderamento e provocando discussões acerca de suas lutas principalmente através da estética. Estudante de jornalismo, apaixonada por moda, beleza e brega!